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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Chimarrão




Do livro (gargalhadas) "Mal-humorados - um guia para com eles", de 2009.


O ato de tomar chimarrão é algo complexo.
Não pense você que socar erva mate cuia adentro, fixar a bomba e depois encher d’água pelando é fazer chimarrão. De forma alguma! Não só não é, como conheço gente que pelaria o lombo de quem o dissesse. Sorver o mate requer um ritual de preparação, que não necessariamente obedece a um padrão e/ou ordem específicos.
Conheço casos de personas que acordam antes do sol exsurgir, enchem a chaleira, colocam-na ao fogo alto e, enquanto esperam a água chiar, cevam o mate com cirúrgico capricho, sem esquecer, claro, de dar a cuspida do primeiro mate frio no chão. Mesmo estando em uma cozinha de apartamento.
Há aqueles, mais campeiros - porém não muito - que acordam cedo, machado em punho, semblante lenhadoril e botina sete léguas. Estes caminham floresta adentro (usualmente é um matagal tosco) e cortam a própria lenha. Carregam-na até em casa, colocam no forno à lenha, para, aí sim, dar-se início ao processo.
E, finalmente, cito aquela casta mais ortodoxa, que considera hortelã no mate coisa de fresco. Para estes, água de chimarrão tem que estar fervendo, pelo menos. E quem passar a cuia com a mão direita toma pranchaço de facão na cara.
Evidentemente, não só de subjetividades no ato de prepará-lo vive a tradição. Inclusive tenho um amigo, colorado doente, que não toma chimarrão em cuia com o símbolo do Grêmio e exige ver o pacote da erva, pois “nunca se sabe”. Muitos são os hábitos dos que sorvem o mate amargo.
Mas poucos são os que cultuam a prática com tamanho fervor quanto o Cunha o fez.
A história do Cunha é mais ou menos assim: depois de 30 anos trabalhando como funcionário público - deixou de levar o mate somente uma única vez, quando sua mulher faleceu e ele esqueceu a cuia no velório - aposentou-se e comprou uma propriedade rural, onde passava os dias tomando mate fervendo e atirando em qualquer coisa provida de vida que lhe cruzasse a vista. Anos depois, quando acometido de um câncer na garganta, já agonizante em seu derradeiro leito, ainda pediu para um filho seu:

- Tonico, me traga um amargo bem quente.
- Mas e tua garganta, pai?
- Vou matar o bicho escaldado!

Topo do playlist:

Pepe Guerra, Glênio Fagundes e Cuarteto Zitarrosa

1 comentários:

Renan disse...

Assustador tu ter postado isso agora a pouco...

Passa no meu blog e entende porquê.